20 junho 2010

Saramago morreu! Viva Saramago!

Porque a sua obra ficará viva pelos séculos dos séculos além!
Tamanha lucidez, frontalidade e firmeza de convicções, faz-nos falta, num país que se está a transformar num ensaio sobre a mudez, onde ninguém tem coragem/voz para denunciar as aberrações que estão a acontecer diariamente.
Do encantamento e estranheza que foram Levantados do Chão e Memorial do Convento, os que vieram a seguir tornaram-se iguais a quaisquer outros muitos bons romances. Que me perdoem! O que importa menos é onde ficam as suas cinzas - Azinhaga do Ribatejo? Lanzarote? Outro sítio? No nosso coração, certamente! O que faz falta é o homem e as palavras que dizia.
Talvez ele pudesse reinventar novos levantados do chão contra esta crise com que nos massacram, mas de que não somos culpados.

Breve biografia de José Saramago
José de Sousa Saramago (Azinhaga, Golegã, 16 de Novembro de 1922 - Lanzarote, Ilhas Canárias, 18 de Junho de 2010) foi um escritor, argumentista, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português.
Nasceu de uma família de pais e avós pobres. Em 1924, a familia muda-se para Lisboa. Apesar do gosto que demonstra desde cedo pelos estudos, não tem possibilidade de entrar na universidade. Para garantir o seu sustento, formou-se numa escola técnica. O seu primeiro emprego foi serralheiro mecânico.
Entretanto, fascinado pelos livros, à noite visitava com grande frequência a Biblioteca Central - Palácio Galveias, em Lisboa.
Autodidacta, aos 25 anos publica o primeiro romance Terra do Pecado (1947), mesmo ano de nascimento da sua filha, Violante, fruto do primeiro casamento com Ilda Reis, com quem se casou em 1944 e permaneceu até 1970. Nessa época, Saramago era funcionário público. Para melhorar os seus rendimentos, em 1955, começou a fazer traduções - Hegel, Tolstói e Baudelaire, entre outros autores, aos quais se dedicou.
Saramago era militante do Partido Comunista Português desde 1969.
Em 1975, foi nomeado director-adjunto do Diário de Notícias, cargo que ocupou durante alguns meses. A partir de 1976 passou a viver dos seus escritos, inicialmente como tradutor, depois como autor.
Em 1988, casar-se-ia com a jornalista e tradutora espanhola María del Pilar del Río Sánchez, que conheceu em 1986, ao lado da qual continuou a viver até à sua morte.
Devido a toda a influência cultural exercida pelo catolicismo em Portugal, Saramago aborda a Bíblia no seu trabalho de escritor. A sua interpretação sobre este livro é a de que ele é um "manual de maus costumes", cheio de "um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana" e que, para uma pessoa comum a decifrar, precisaria de ter "um teólogo ao lado". E cita, para sustentar isso, os episódios de violência relatados na Bíblia, como o sacrifício de Isaac, a destruição de Sodoma ou a vida de Job, por exemplo. Para Saramago, todos eles revelam que "Deus não é de fiar". Porém, Saramago não deixa de reconhecer que a "Biblia tem coisas admiráveis do ponto de vista literário" e "muita coisa vale a pena ler", estando, entre elas, os Salmos, com páginas "belíssimas", o Cântico dos Cânticos e a parábola do semeador contada por Jesus.
A relação de tensão de Saramago com a Igreja Católica cresceu fortemente após a publicação do livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo, em 1991. O livro foi motivo de fortes críticas por parte da Igreja Católica e de alguns políticos católicos que se consideraram ofendidos pela leitura secular que Saramago faz da personagem Jesus. O Sub-Secretário de Estado Adjunto da Cultura de Portugal, vetou, em 1991, o livro de Saramago de uma lista de romances portugueses candidatos a um prémio literário europeu. Este foi um dos fortes motivos que levaram Saramago a mudar-se de Portugal para Espanha, pouco depois.
Em 1992, juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues, fundou a Frente Nacional para Defesa da Cultura (FNDC).
José Saramago ganhou o Prémio Camões, em 1995, o mais importante prémio literário da língua portuguesa.
Em 1998, a qualidade da sua obra literária é reconhecida mundialmente, com a atribuição do Prémio Nobel da Literatura, sendo o primeiro e, até agora, único escritor de língua portuguesa galardoado com esse Prémio.
Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.
O lançamento de um dos seus últimos livros, Caim, em 2009, voltou a ser alvo de mais perseguição religiosa. O livro voltou a suscitar "incompreensões, resistências, ódios velhos", conforme Saramago. "Desperto muitos anticorpos em certas pessoas", acrescenta, acusando responsáveis da Igreja Católica de terem comentado o livro sem o terem lido.
Na sua passagem por Roma, em 14 de Outubro de 2009, criticou a Igreja Católica dizendo que as "insolências reaccionárias da Igreja Católica precisam de ser combatidas com a insolência da inteligência viva, do bom senso, da palavra responsável. Não podemos permitir que a verdade seja ofendida todos os dias por supostos representantes de Deus na Terra, os quais, na verdade, só têm interesse no poder".
A publicação sucessiva de um vasto conjunto de obras, tornam Saramago como uma figura cimeira da literatura nacional e mundial.

Frases de José Saramago
- "O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida, não sabia ler nem escrever", disse ao receber o Prémio Nobel de Literatura, em 1998, citando o avô, analfabeto.
- "Se eu pudesse repetir a minha infância, repetia-a exactamente como foi, com a pobreza, com o frio, pouca comida, com as moscas e os porcos, tudo aquilo.", em entrevista a Edney Silvestre, em 2007.
- "A globalização é um totalitarismo. Totalitarismo que não precisa nem de camisas verdes, nem castanhas, nem suásticas. São os ricos que governam e os pobres vivem como podem.", idem.
- "Eu sou um comunista hormonal. O meu corpo contém hormonas que fazem crescer a minha barba e outras que me tornam um comunista. Mudar para quê? Eu ficaria envergonhado, eu não quero tornar-me outra pessoa.", em entrevista à BBC, em Junho de 2009.

Página oficial, aqui.

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