02 agosto 2010

Novos escravos

Insistimos em continuar os mais tristes, os mais pobres, os mais corruptos. Insistimos, em nome da crise e das dificuldades (quais dificuldades? de quem?), em dar vida de cão a muitos dos nossos compatriotas.
Alguns órgãos de comunicação social, dão hoje notícias deste facto*. O Tribunal de Instrução Criminal do Porto mandou para julgamento 58 indivíduos, organizados em 13 "clãs", acusados de crimes de escravidão referentes ao recrutamento de pessoas numa situação débil: analfabetos, deficientes mentais ou dependentes de álcool ou droga. Há 65 vítimas identificadas.
Entre 1997 e 2005, os acusados dedicavam-se à angariação de mão-de-obra para quintas, caves vinícolas ou para trabalhar nas obras, em várias regiões de Espanha, através da promessa de salários razoáveis, com despesas de alojamento e alimentação pagas. A angariação era efectuada no interior do país, mas também no Porto, em estações de autocarros, comboios, hospitais e no centro da cidade.
Chegados a La Rioja, Logroño, ou outras cidades do Norte de Espanha, os trabalhadores eram colocados em situações desumanas e a viver sob constante ameaça e intimidação, além de agressões.
Tinham de trabalhar todos os dias, desde o nascer até ao pôr-do-sol, sem folgas. Comiam sandes ao almoço e, ao jantar, eram-lhes fornecidos os "restos" da alimentação dos "clãs", que serviam também para dar a animais. E nada ganhavam.
Há vítimas que dizem ter construído cabanas com plásticos para não dormirem ao relento; casos de pessoas que se deitavam em colchões retirados do lixo; outros viviam em casas degradadas, sem casa-de-banho, o que os obrigava a tomar banho em rios ou riachos.
A situação é, por vezes, tão intolerável que alguns acabam por conseguir fugir e regressar a Portugal, mas sempre sob receio de represálias por parte dos grupos.
Estes trabalhadores, regressam humilhados, mais pobres do que foram e com uma história triste para contar.
Assim é a nova escravatura.
A nós, tudo isto deixa um gosto amargo na boca.
Quem parece não se incomodar muito é a justiça e os governantes portugueses. Até quando?

* Caso do Jornal de Notícias, onde se baseou este artigo.

Fernanda e Jacinto

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